
Olá, eu sou a Geo, tenho 5 anos. A última vez que me lembro, eu tava lá no passado, em 1973, na casa de Rag. E vi que a coitadinha tava possuída pelo caos dos infernos fedorentos. Sem nem lembrar como, apareci nesse lugar sinistro, todo cinza e sem viva alma por perto.
Olho pro lado e não vejo nada, só um caminho loooongo. Que lonjura! Não tô a fim de caminhar isso tudo, vai muito além dos meus 500 passinhos diários.
Então vou deitar aqui mesmo, nessa areia, e esperar o vento me empurrar até a cidade mais próxima. Que preguiça! Só vejo essa areia toda… quero voltar.
Aí a Geo se deitou e ficou lá por uns 10 minutos, percebendo que o vento não ia empurrar nem um fio de cabelo dela pro outro lado da cidade. Ela se irrita e solta logo:
— Aff!
Então ela começa a caminhar, mesmo resmungando o caminho todo.
— Poxa, cadê todo mundo? — resmunga. — Não sei onde esse povo se esconde… será que tão trabalhando? Mas ó, não acho que esse lugar seja propício pra trabalho, não…
Decidida, ela segue o caminho, e logo em seguida tem uma ideia. Geo tira um celular do bolso — estranhamente, o aparelho tava carregado. Mas, claro, sem sinal.
Pra surpresa dela, o celular mostrava uma data esquisitíssima: 12 de dezembro de 4215.
— Quê?! 4215?! — ela se assusta. — Eu tava em 2025, e antes disso em 1973!
Rapidinho, ela guarda o celular no bolso e solta um sussurro:
— Eita peste… acho que fiz coisa errada de novo.
Aí ela pensa na Anja que sempre a acompanhava.
— Hum… Já sei! Vou chamar a Anja!
Mas logo lembra que tinha tretado com a mentora antes de ir pra casa da Rag.
— Ah, é verdade… a Anja tá namorando com o Pazuzu… aquele nojento!
Aflita, Geo reclama:
— Minha nossa, o que é que eu vou fazer? Nem sei onde tô… e esse aparelho aqui tá dizendo que tô no ano 4200. Como assim, véi?
Então, Geo percebe que o celular tava começando a perder a forma. Quanto mais ela andava, mais o aparelho se desmanchava. Foi aí que avistou um pequeno monte. Correu até o topo e, lá de cima, viu um poço cheio de lava vulcânica.
— Oxe! — disse Geo. — Como assim, um buraco de fogo?
E logo à frente, se surpreende: havia um homem andando no meio daquele deserto. Correndo em direção ao sujeito, Geo de repente para, assustada, ao ver o homem se jogando voluntariamente dentro do lago de fogo.
— Que peste é isso?! — solta, surpresa. E grita bem alto:
— Você é doido, é? Fio da peste!
Geo se aproxima mais daquele homem… e, pra sua surpresa, vê o cara saindo da lava como se nada tivesse acontecido.
— Eu tô ficando maluca, é? — resmunga. — Vi esse fio da peste se jogando no fogo e agora ele sai como se não tivesse rolado nada?
Então ela chega mais perto do homem, que não diz uma palavra. Parecia que ele tava pré-destinado a fazer aquilo pela eternidade.
Geo observa ele se jogar de novo na lava e solta:
— Eita peste… de novo?
Ela espera o homem sair do lago de fogo e vai até ele. Quando se aproxima, pega na mão dele. O homem, todo zumbi, começa a falar:
— Olha só, hahaha… a menininha aí… hahaha…
— O quê…? — diz Geo, confusa.
Sem pensar duas vezes, vira o homem pra frente do lago e empurra:
— Oxi, fio da peste! Toma! Cai no fogo de novo, besta!
O homem-zumbi sai do lago de novo, mas dessa vez sem falar nada. Geo já perde a paciência:
— Você vai ficar fazendo isso o dia todo, é?
Ignorando a pergunta dela, o zumbi começa a caminhar de novo na direção da lava.
Geo, mais ligeira, corre, passa na frente dele e mete logo a perna pra ele tropeçar. O zumbi cai de cara no fogo, e ela cai na risada:
— Toma! Caiu de cara no fogo, zumbi besta! Hahaha!
Ela ficou um tempão empurrando o zumbi no lago de fogo. Depois de um tempo, enjoou da brincadeira e saiu, deixando o zumbi lá mesmo.
Do outro lado, ela presencia outra cena sinistra. Um ser vestido como se fosse o anjo da morte tava se aproximando do zumbi que ela tinha deixado a uns metros. Ela tava relativamente distante, mas deu pra ver bem a bicha da capa preta — foi assim mesmo que ela definiu — se chegando perto do zumbi.
Geo, sabendo que não dava pra chegar rápido até lá, grita:
— Moço! Cuidado! O cão preto tá indo atrás de você!
Pra surpresa dela, o eco da voz estrondou tudo ao redor. Nunca ninguém tinha gritado daquele jeito naquele lugar.
— Minha nossa, que grito alto… nem sabia que minha voz era tão potente assim — disse, meio espantada.
Então ela se aproxima do zumbi, meio preocupada:
— Moço, tá bem?
Mas ele continua ignorando, como se nem tivesse ouvido nada.
Mesmo sabendo que, se se aproximasse dele e tentasse interagir, o rival podia aparecer, ela foi teimosa e tentou de novo.
A pequena Geo pega na mão do zumbi, e ele começa a falar:
— Ahahahaha… mininha… haha…
Levemente irritada, ela manda logo:
— Ô moço, para com isso, vai…
E o zumbi, na hora, para de falar.
A pequena Geo percebe que aquele zumbi não tinha nada de perigoso. Era bem diferente das pessoas que viviam na cidade.
Então ela pede, meio tímida:
— Por favor, moço… posso tocar na sua testa?
Ela lembrou de uma médica que fez isso com uma criança doente. A médica tinha colocado a mão na testa do menino, e depois disso, o moleque ficou bom. Então, por que não tentar?
Ela encosta a mão na testa do zumbi. Seus olhos brilham por alguns segundos… e o zumbi recupera a consciência.
O homem, com a voz mais firme, pergunta:
— Quem é você, criança? Espera… eu já te vi antes. Você já tinha falado comigo! Foi você que eu vi quando acordei na beira do rio… foi você que me fez descobrir o enigma nas lápides do cemitério! Você sempre aparece perto de mim… Quem é você?
Geo responde, com aquela carinha inocente:
— Oxe, moço! Eu? Nunca saí de casa, não…
O homem, acompanhado da pequena Geo, saiu daquele lugar esquisito, e agora os dois estavam conversando.
De repente, Geo solta a mão dele… e o homem vira um zumbi de novo.
— Oxi! Morreu de novo, foi?
Ela logo entendeu que precisava ficar por perto dele. Se aproxima rapidinho e, como mágica, o homem se levanta de novo.
Geo resmunga:
— Credo… Tá bom, moço. Mas me diga aí: o que é que você tá fazendo nesse lugar? E que lugar é esse, afinal?
O homem olha em volta, meio perdido. Não sabe explicar, não lembra de nada e nem faz ideia do significado daquele lugar.
Tentando se entender, ele começa a contar:
— Eu só lembro que tava indo pro trabalho… sou cientista, ia terminar um experimento importante. Mas aí, do nada, tudo escureceu… e depois disso, nunca mais vi ninguém. Nem minha família, nem meus colegas… sumiram todos.
Eles continuaram caminhando até chegarem numa trilha. Lá na frente, avistaram alguém se aproximando.
Parecia uma charrete… e, em cima dela, o bicho preto. Na mesma hora, pararam.
— Ihh… o tempo travou — comentou Geo, de olho bem aberto.
A pequena, sem medo, solta:
— Bicha feia!
Então vai até um saco preto que estava amarrado com correntes na parte de trás da charrete. Curiosa, dá uma espiada… e pra sua surpresa: o homem que tava sendo puxado dentro do saco era o mesmo que tava ali conversando com ela!
— Affs! — solta ela, assustada.
Geo fica ali parada, tentando entender se tava ficando doida ou se o mundo tinha virado de cabeça pra baixo de vez.
— Que bixiga é isso? Tem dois? Como é possível? — resmunga, confusa.
Ela tira o homem do saco preto, e na mesma hora, a morcega e o outro homem somem.
— Eita peste!
O homem que tava no saco se levanta e começa a falar com a pequena Geo:
— Criança, o que você tá fazendo aqui? Vem, parece que tem um rio ali perto.
Geo, ainda zonza, pensa: Ué… o homem que desapareceu… e agora esse do saco lembra que tava conversando comigo?!
Mesmo confusa, ela vai com ele. Os dois seguem até o lago.
— Olha, água… num lugar desse? — comenta Geo, desconfiada.
Quando se aproximam do rio, Geo vê uma sombra dentro da água.
— Deus é mais! Oxe, tem alguém lá dentro!
— Moço, puxa o nadador! — grita ela.
O homem do saco puxa o ser que tava dentro do rio, e ele sai rapidinho.
Assim que o ser sai, ele diz:
— Criança, cuidado! Você vai se molhar se chegar perto.
Geo arregala os olhos:
— Outro?! Igualzinho ao moço do saco?
Ela olha pro lado… mas cadê o homem? Sumiu. Só tava o ser do rio agora.
Sem entender nada e fingindo que aquilo era normal, Geo dá um suspiro e segue sua trilha, como se nada tivesse acontecido.
Os dois ainda conversavam, sem nada fazer muito sentido. Pequenos lapsos de memória começavam a vir à tona na cabeça do homem.
— Geo, tenta se lembrar, moço. Vai que isso ajuda a gente a sair desse lugar — disse ela, esperançosa.
O homem sussurra:
— Ali… tem uma casinha pequena, parece casa de interior…
Geo olha e retruca:
— Parece mais uma cabana… bora lá ver isso de perto.
Os dois foram. Quando a pequena Geo chega na porta da cabana… o homem que tava com ela some de novo.
— Aff! — resmunga ela, irritada.
Ela bate na porta da cabana. E pra surpresa dela, o mesmo homem que tava acompanhando ela sai de dentro da cabana.
Geo solta logo:
— Eita peste! Já tá aí dentro, moço?
O homem entrega uma cartinha e fala:
— Você demorou pra chegar. O velho que morava aqui disse que eu tinha que entregar isso pra você. Por favor, entre.
Geo, levemente irritada, fala:
— Que doidice é essa, hein? O homem sai do saco, sai do rio… e agora tá saindo de dentro da cabana?
— Me dá logo essa peste de carta!
Ela pega a carta, abre… e dentro só tem uma coisa escrita: o número 257.
A Geo, confusa, solta:
— Que peste é esse número…? Bora, moço, vamo sair daqui!
O homem sai da cabana e acompanha Geo na trilha. Caminham até chegarem num cemitério. Lá tinha umas lápides e… bom, mais cemitério.
Geo olha em volta e fala:
— Isso é coisa de gente maluca. A gente sai da cabana e do nada aparece um cemitério? Oxooxo! O povo desse lugar deve construir tudo colado pra não cansar, só pode…
Mesmo achando estranho, resolve entrar no cemitério.
O homem, meio paralisado, diz:
— Eu lembro desse lugar… aqui pegou fogo uma vez… foi atingido por vários raios. Como é que tá tudo do mesmo jeitinho?
Geo solta:
— Você é maluquinho, viu?
— Bora logo, moço! — diz, assumindo que precisavam atravessar o cemitério.
No meio do caminho, havia um túmulo bem destacado. Geo chega perto da lápide e pergunta:
— Moço, você enxerga o que tá escrito aqui?
O homem diz que não.
Então os dois avançam mais um pouco. Geo olha com atenção e percebe que, em uma das lápides, tinha o número 257 gravado do lado.
Aff… — resmunga baixinho. — Esse número de novo…
A Geo corre até lá. E tem uma surpresa: havia uma foto e uma mensagem na lápide.
Geo, muito surpresa, grita:
— Eita, menor! Fio da peste! Como é possível isso?
Ela grita:
— Moço! Vem cá, rápido!
O homem se aproxima da sepultura, e Geo, rindo alto, solta:
— Haihihiiii! Moçoooooo! Você sabe quem tá aí? Consegue ler? Olha a foto, tá peste!
O homem, confuso, diz que não vê nada além de uma sepultura desgastada pelo tempo.
Geo, ainda zoando o homem:
— Bora embora, moço. Ai, meu Deus, não aguento isso, vou explodir de rir!
Então eles saem daquele lugar esquisito.
Logo depois, no fim do cemitério, havia uma pequena porta.
Geo abre e dá uma olhada no que tinha lá dentro.
— Moço, você vai pra esse lugar. Eu… eu não posso mais te acompanhar. Lá dentro, você vai encontrar umas pessoas conhecidas… gente que você costumava lembrar antes de chegar nesse mundo. Não sai mais de lá, viu?
A Geo então espera o homem entrar pela porta… e, em silêncio, fecha ela logo em seguida.
Todo o cenário muda… e a Geo agora tá no quarto de Regues. Ao entrar, vê a pequena criança chorando, como se nunca tivesse sido possuída pelo demônio Pazuzu.
Geo comenta:
— Eita… passei tempo demais! O filme acabou e a menina já tá novinha de novo…
Com suas enormes asas, Geo desce pra sala, sai da casa da menina possuída, desce uma escada e vê uma multidão gigante lá embaixo. Tinha gente pra todo lado. Parecia que um padre tinha se jogado da escada.
Geo se aproxima e diz, com a voz suave:
— Oi, moço… pode dormir agora. Pode atravessar a porta colorida.
O padre então morre ali mesmo, em paz.
Geo sai daquela casa e, do nada, encontra a Anja.
— Anja, minha fia… já terminou seu namoro com aquele demônio, sua danadinha?
A Anja, com um sorriso calmo, responde:
— Tudo está em equilíbrio novamente.
Geo, curiosa, pergunta:
— E cadê o seu namorado, Anja?
A Anja logo corta:
— Não fala isso, Geo… é pecado!
E completa:
— O demônio desapareceu no momento em que você voltou à casa de Regues. Sabia que toda possessão demoníaca só acontece quando há desequilíbrio entre o céu e o inferno?
— Os demônios só saem quando um ser justo é mandado pro inferno. Por isso eles vivem tentando as pessoas boas… se uma alma boa for condenada, o demônio responsável consegue sair do Inferno.
Geo coça a cabeça e solta:
— Ave Maria… que doideira! Então é por isso que tudo isso aconteceu?
A Geo, sem entender nada, solta:
— Sei lá o que é isso, minha fia…
— Anja, preciso te contar uma coisa! Olha… na hora que fui mandada pra aquele lugar estranho, conheci um doidinho. Era bem maluquinho, sabe? Eu empurrei ele no lago e foi muito engraçado!
— Vamos pro Haven que eu te conto tudo, viu..
A Anja, chocada:
— Nossa, Geo… você é muito malvada!
— Até mais! — diz Geo, saindo rindo como quem aprontou e gostou.