Depois que passou todo aquele caos envolvendo a ilha e os traficantes de humanos, consegui relaxar um pouco. Fui checar o meu PC antigão, que deixei antes de sair desse esconderijo. Fico me perguntando o que o Default está fazendo… Será que ele foi capturado e morto? Não sabemos onde ele está no presente momento. Será que tudo acabou? Bom, não sei.
Então, resolvi caminhar pela pacata cidade interiorana e viver um pouco, longe do mundo virtual. Ainda com o cabelo diferente, fiquei na praça caminhando um pouco. Passei algumas horas sem pensar em nada. Mas o sensor de alerta que todo hacker possui me fez perceber algo que as outras pessoas normalmente não enxergam.
Havia um rapaz, pensativo, mas sem ninguém ao redor. Resolvi ir até ele e puxar uma conversa. Ao chegar perto desse jovem, tivemos uma boa sintonia. Após uma longa conversa, percebi que era apenas uma má interpretação da vivência e do cotidiano.
Depois desse fato, fui para a minha casa e lá retomei a vida antiga, sem código, sem vírus. Aliás, uma faxina não seria nada mal para recomeçar uma nova vida. Três dias se passaram na mesma rotina… quando me surpreendi com um envelope deixado e passado pelo espaço da porta.
Precavido, peguei uma luva e, com cuidado, levei o envelope até a mesa. Ninguém sabe o que pode conter em envelopes anônimos — como antraz ou outras substâncias químicas perigosas. Depois da análise, peguei uma tesoura e abri o envelope. Para minha surpresa, havia uma folha de papel com recortes de inúmeras letras, de tamanhos e cores diferentes. O conteúdo da carta dizia o seguinte:
“Quero sua ajuda, mas não posso detalhar. Gostaria que fosse imediatamente para este lugar. Aqui estão as coordenadas geográficas do local exato.”
Ao perceber, pensei: o que será isso? Alguém quer me ver? Seria uma emboscada ou uma tentativa de homicídio? Não sei, mas o que significaria essa mensagem? Aproveitei, peguei o smartphone e digitei as coordenadas. Queria saber onde era.
Então, no mapa digital, localizei o ponto. Não parecia um lugar povoado e era um pouco afastado da cidade. Não quero saber — vou até esse lugar. Liguei para o transporte e cheguei próximo ao local. Havia um sistema de câmeras que monitorava todo o espaço.
Levando um PC portátil com antena capaz de expandir e capturar sinais de Wi-Fi, dentro do carro fiz uma varredura nos IPs e conexões. Existiam alguns, mas apenas três estavam associados a câmeras do tipo IP, aquelas usadas em vigilância.
Ao rodar o roteiro para ver se havia vulnerabilidades, percebi que, pelo contrário, não havia espaço para acessar diretamente as câmeras. Já fiz isso algumas vezes, então lembrei que muitas câmeras têm sites específicos para conexão — basta ter login e senha. Presumo que os administradores da rede de vigilância não se preocupariam muito com proteção.
Então acessei o IP da marca associada às câmeras e cheguei na página de login. Bom, sem segurança, vou tentar algo: admin para o login e Senha: 123456.
Será que vai dar certo…?
Sim, eu sabia: não há proteção contra segurança em câmeras de vigilância. Estou conectado. Com uma certa distância, tive acesso root ao serviço, mas havia muitas gravações que eram hospedadas em outro lugar. Quero saber o que essa câmera pode revelar…
Passei algumas horas analisando todos os dados gravados. Apenas um me chamou atenção. Uma pessoa vestida com capuz preto e roupa da mesma cor havia chegado algumas horas antes e deixado algo embaixo de uma pedra, escondido próximo a uma árvore. Ninguém imaginaria que alguém deixaria algo ali. Depois disso, não apareceu mais ninguém.
Então, com meu smartphone em mãos e observando a câmera para evitar surpresas, fui até o local indicado na gravação do vídeo. Sim, era um dispositivo de armazenamento. O que seria?
Não é muito esperto conectar algo no computador — como cabos ou HD externo — porque criminosos modificam geralmente a estrutura e colocam outros artifícios para capturar seus dados. Mas, quem liga? Se der algum problema, eu consigo resolver.
Peguei o HD e acessei seu conteúdo. Ao abrir, não havia documentos, apenas um único arquivo de áudio.
No áudio, a pessoa iniciou sua fala dizendo: “Se você está escutando este áudio, é porque quer de fato me ajudar. Eu sou a pessoa com quem você tentou conversar na praça alguns dias atrás.”
Nossa… essa foi a minha reação. Como ele saberia que eu viria até aqui? Será que ele desconfia de algo? Sem querer, me envolvi novamente. Preciso saber quem é essa pessoa.
Mas, antes, deletei todos os arquivos salvos no servidor, e a gravação ficou sem funcionar. Agora está offline; até alguém descobrir isso, vai demorar.
Então, o conteúdo do áudio dizia que essa pessoa está sendo monitorada constantemente. Ele afirma que há pessoas gravando informações dentro da casa dele, sem que a vítima perceba que existe uma prática criminosa acontecendo. Ele só constatou a veracidade disso quando foi confrontado com palavras ditas dentro da própria casa, repetidas por terceiros na rua.
Isso é impossível — como alguém poderia saber o que ele falou ou fez na própria casa? A desconfiança era válida.
Pensei: isso é algo que me interessa… ou talvez não.
O áudio ainda dizia que os meliantes editavam o áudio e enviavam para pessoas conhecidas, a fim de denegrir a imagem, manchar a honra e difamar a vítima. Algo como: “Olha o que essa pessoa (a vítima) está falando de você”, quando, na verdade, ele nunca disse aquilo. Ele só descobriu a partir de constatações. Há um estado de paranoia associado a determinados criminosos, que acaba servindo para justificar dois pontos importantes. O primeiro diz respeito aos crimes reais cometidos por eles, frequentemente motivados por fantasias persecutórias. Eles afirmam que existe uma terrorista que mata todo mundo — mas quem seria ela? Será que essa figura não existe apenas na imaginação deles, criada para justificar homicídios? Muitos crimes sem explicação aparente têm essa origem: foram cometidos pelos próprios indivíduos que, em um quadro paranoico, inventam essa mulher como álibi psicológico para a violência que praticam. É um claro caso de paranoia, mas com crimes reais.
O segundo ponto está relacionado à prática do ciúme mórbido. Eles tentam justificar invasões e outras condutas ilícitas alegando ciúmes de uma pessoa que já está morta há mais de 16 anos. Trata-se, novamente, de um delírio persecutório transformado em “razão” para atos criminosos.
O áudio era longo… Quero saber quem vigia e difama essa pessoa. Invasão de privacidade é crime.
Localizei a casa dele. Irei descobrir, mas não devido à ação criminosa em si — e sim porque algo está me intrigando: como ele sabia que eu encontraria esse áudio?
Cheguei próximo à residência e nada chamava atenção. Quem são essas pessoas que estão perseguindo e invadindo criminosamente a casa desse sujeito?
Não havia ninguém por perto, nenhum sinal de movimentação, nenhum lugar que sugerisse uma trama.
O que devo fazer…?