Levantei-me novamente nesse lugar atormentante, e tudo parece igual como sempre. Espere! Estou vendo algo logo à frente… o que será? Bom, como sempre, não irei ficar parado — irei até esse lugar. Caminhei alguns quilômetros e cheguei próximo a uma casa, numa cidade em cima do morro, de onde minha visão alcançava toda a paisagem.
Ao me aproximar mais, fiquei observando por alguns minutos. Essa cidade é conhecida. Chegando ao centro, reconheci alguns espaços familiares, sem nenhuma mudança. Está tudo do mesmo jeito de sempre.
Será que consegui sair daquele lugar aterrorizante e finalmente cheguei à minha morada? Ou tudo não passou de um sonho?
Fui até a minha casa, em frente, senti que tudo estava bem novamente. Mas estava trancada. Cadê as chaves? Não consigo encontrá-las.
Então decidi sentar e esperar que alguém se aproximasse para me dar alguma informação. Após certo tempo, uma pessoa se aproximou da casa, pegou as chaves e abriu a porta. Era uma moça de cabelo preto, magra e não muito alta.
Aproximei-me e tentei me comunicar:
— Olá, senhorita. Gostaria de uma informação: quem morava aí, nesta casa?
A mulher parecia não me ouvir. Ignorou-me completamente. Confuso, tentei outras vezes, até que ela entrou na casa e fechou a porta novamente.
O que aconteceu? Por que ela não me respondeu?
Isso é muito estranho… Tentei me comunicar com outras pessoas que passavam naquele momento, mas todas me ignoravam. Estou invisível? Não sei… as pessoas passam e não me enxergam.
O que será que está acontecendo com essa cidade?
Após muitas tentativas, decidi esperar aqui até que alguém fale comigo. Estou em frente à casa.
Após algumas horas, chegou um entregador de aparelhos eletrônicos e chamou a dona da casa. Então, ela abriu e pediu para o homem colocar a encomenda na sala.
Aproveitando que a porta estava acessível, decidi entrar. Mas, ao me aproximar da entrada, não consegui atravessar — meu corpo ficou paralisado.
Então, a mulher, do fundo da casa, gritou:
— Pode entrar!
O homem parecia não ouvir. Ela gritou novamente:
— Entre e deixe o pacote na sala da frente!
O entregador não ouviu. Pensei: Ele está surdo?
Ouvi ela fazer dois chamados.
Em seguida, a mulher apareceu na frente e disse:
— Pode entrar, estou lhe convidando. As portas estão abertas.
Com isso, o homem entrou na casa — e, dessa vez, eu também consegui ter acesso. O que houve? Por que agora consegui entrar nesta casa?
Demorou algumas horas para a entrega e a instalação serem concluídas. O homem saiu e a mulher fechou a porta.
Espere… ela não vai dizer nada? Há uma pessoa dentro da casa dela e ela não fala nada? Que esquisito.
Não consigo interagir muito bem com as coisas… é tudo muito esquisito.
Fiquei parado por muito tempo, sentei no sofá, depois na cadeira — e nada aconteceu.
Realmente, estou invisível. Não sei o que fazer.
Após algumas horas, ela apagou as luzes e foi para o quarto. Subi as escadas logo após ela entrar. Fui até o quarto e fiquei observando aquela mulher dormindo.
Sim, fiquei em pé apenas observando. Depois, sentei-me na cadeira que havia ali.
Estou fazendo companhia a essa mulher. Em seguida, me aproximei e encostei na cama.
Parece que ela não vai falar comigo…
Desci as escadas e fui até a cozinha.
Vou tentar algo. Girei a torneira da pia para deixar sair um pouco de água, tentando chamar atenção. Derrubei um copo, bati na porta… mas nada fazia efeito.
Amanheceu. A mulher saiu e trancou tudo. Vou esperá-la novamente.
Enquanto ela me ignorava, eu tentava chamar sua atenção.
Ela foi ao banheiro — parecia que iria tomar um belo banho.
Deixou a porta aberta, e a ducha começou a cair. O vapor de água percorreu todo o ambiente.
Cheguei próximo a um espelho. Estranho… não aparecia o meu reflexo.
Mas decidi tentar outra coisa:
no espelho, usei o vapor que cobria tudo para escrever uma frase:
“Oi, estou aqui novamente. Quero falar com você.”
Então, a mulher saiu do banheiro e, pela primeira vez, olhou para o espelho.
Com uma expressão de choque, ficou sem acreditar.
Assustada, perguntou a si mesma:
— O que significa isso? Tem alguém aqui…?
Atormentada, correu até a sala onde havia um monitor de vigilância com câmeras.
Mas não havia nada de estranho registrado.
Logo em seguida, chamou a polícia imediatamente.
Após alguns minutos, a polícia realizou uma investigação dentro da casa da mulher, mas não encontrou nenhuma evidência de que ela tivesse sido invadida.
Sem acreditar que poderia ter sofrido uma violação, trancou as portas e fechou o quarto.
— Nossa… não consegui entrar. O que fazer agora?
Fui até o fundo da casa e derrubei um objeto, que fez um pequeno barulho — suficiente para acordá-la.
Então, a mulher perguntou ao nada:
— Tem alguém aqui? Você está tentando fazer contato comigo?
Cheguei mais perto dela e, sem perceber, a mulher sentiu um calafrio.
De repente, entrou em desespero ao ver, na escuridão, uma sombra aterrorizante vindo em sua direção.
Ela começou a gritar como nunca — mesmo não havendo vizinhos por perto.
A sombra fez um movimento estranho… parecia que iria sacar algo.
Desesperada, a mulher pediu ajuda.
Eu apenas a observava, sem saber o que fazer.
Quem era aquela pessoa que havia entrado na casa naquele exato momento?
Ela entrou em tamanho desespero, aprisionada pelo medo da morte, que algo vital cessou imediatamente.
— Nossa… ela sofreu uma parada cardíaca de tanto medo!
Ela estava em pé… imóvel… morreu em pé?
Então corri para tentar fazer algo, mas algo estranho aconteceu: olhei para as minhas mãos — estavam diferentes.
Estou… dentro do corpo falecido?
Isso é uma possessão?
Ao levantar o pescoço, vi o homem disparar alguns tiros contra o corpo da mulher.
O que acontece se alguém atira em um corpo que estou possuindo?
Isso é impossível…
Foi então que fui lançado para fora do corpo dela.
Parecia que a própria alma havia me rejeitado.
Pouco tempo depois, os médicos chegaram para socorrê-la, levando-a às pressas para a emergência.
Depois desse procedimento médico, passaram-se alguns dias.
Consegui chegar até o leito onde ela se encontrava — desta vez, respirando com ajuda de aparelhos.
Novamente, fiquei a observá-la.
A dor que ela sentia era imensa — um sofrimento físico terrível, com alguns órgãos bastante danificados.
Ninguém sabia o motivo de o homem ter entrado em sua casa e realizado tantos disparos.
Fiquei me questionando: eu também entrei… mas ela não conseguia me ver.
Aproximei-me dela:
— Oi… você consegue me ouvir?
E, para minha surpresa, ela respondeu:
— Sim…
— Que bom! Você está melhor? Quanto tempo ficará nessa situação? Queria entrar em contato com você…
Então a mulher respondeu:
— Então era você quem estava fazendo tudo aquilo? E a mensagem no banheiro… nossa… foi por causa dela que estou aqui.
Pedi desculpas:
— Não era a minha intenção. Só queria fazer contato.
A mulher, com voz fraca, respondeu:
— Não te culpo. Você não estava fisicamente lá… quem iria acreditar nisso? Até hoje não entendo por que minha vida ficou tão esquisita.
Em seguida, ela disse algo que me intrigou:
— Sempre acreditei que eram parentes ou pessoas próximas que viriam nos buscar no final da vida.
— Como assim… “lhe buscar”? — perguntei, sem entender.
— Não compreendo muito bem como essas coisas funcionam — ela respondeu.
— Olha, realmente não sei do que você está falando… mas, se quiser, posso tentar tirar você dessa cama de hospital.
— Espere um pouco — ela disse. — Antes, preciso fazer algo.
Após algumas horas, a mulher internada começou a apresentar uma melhora inexplicável, chegando a retirar os aparelhos logo em seguida.
Três dias após o meu contato… ela estava bem melhor.
Mas algo estranho começou a acontecer.
Muitas pessoas foram visitá-la naquela noite, no quinto dia.
Alguns a abraçaram e choraram; outros — amigos, crianças e adolescentes — se aproximaram.
Tudo parecia uma grande reunião em família.
Sim, fiquei observando tudo aquilo.
Falei:
— Você tem boas pessoas ao seu redor, que realmente gostam de você… até um sacerdote veio vê-la.
Ela respondeu:
— Sim, realmente.
Então começou a olhar para o canto do quarto, e todos perceberam algo estranho.
— O que você está vendo? — perguntaram.
A mulher respondeu:
— Nada…
Mas, com mais coragem e sem apego, ela disse:
— Agora posso ir com você. Me leve.
Sem entender muito bem, peguei em sua mão — e, de repente, tudo ficou em silêncio.
Não se ouviam mais pessoas, nem aparelhos…
Apenas uma imensa tristeza tomou conta daquele ambiente solitário.
Então, ela saiu comigo daquele lugar.
Eu não entendi. Nem conseguia explicar.
— Então é só isso? O que acontece agora? — perguntei.
A mulher respondeu:
— Pronto. Você já fez o que deveria ter feito. Pode me deixar aqui. Vou esperar o que eles irão fazer depois disso.
Então saí daquele lugar… sombrio novamente.
Mas, sem esperar, me deparei com uma figura encapuzada, de aparência aterrorizante.
E ela disse:
— Você me condenou ao inferno.