
Estou novamente parado neste lugar seco, sem cor, sem nenhum sinal que sugira qualquer presença. Lembro que passei muitos anos naquela cerimônia aterrorizante, onde serpentes me devoraram e lançaram meus restos em um ninho de cobras venenosas. Por que estou aqui, em pé, neste lugar? Será que tudo o que presenciei não passou de uma alucinação criada por este lugar maldito? Desde que cheguei a este mundo, ainda não compreendo seu significado, nem a razão de estar aqui. Nem sei mais o que fazer. Aquela presença demoníaca que estava na cerimônia… desapareceu. Lembro dos momentos de tortura, quando perdíamos o controle de nossos corpos. Não sei se devo chamar isso de corpos, mas vomitávamos sangue e pedaços dos nossos órgãos.
Ao voltar, estou parado. Qual o sentido disso? Será que alguma entidade maligna está se divertindo com as nossas almas? Sigo em frente. Parece um longo caminho, quase infinito, sem nada. Não me importei e continuei até encontrar um velho que carregava um saco nas costas. Ao passar próximo a ele, o velho parou e disse: “Você não conseguiu novamente. O caminho que está seguindo não te levará ao seu destino. Tudo volta, até você descobrir o motivo de estar aqui.” O saco nas costas do velho se remexia, parecia ter alguma coisa viva lá dentro. Um animal, talvez? Não sei ao certo.
Ignorei o velho e segui em direção à estrada de areia, que parecia nunca ter fim. As coisas não mudavam. Será que ficarei para sempre percorrendo este lugar? Continuei por muito tempo. Ao longe, encontrei uma pequena cidade, que possuía algumas pessoas e estava muito agitada. Ou melhor, havia um tumulto: pessoas correndo, fechando as portas, e as ruas estavam em caos. Alguns habitantes gritavam: “Corram, fujam, se escondam! Eles vão matar todos nós!” Lembrava-me de invasões antigas que remetem à história, quando exércitos invadiam cidades pequenas e as devastavam, destruindo casas e tudo mais. Não sabia para onde ir, estava sem entender o que estava acontecendo.
Logo à frente, havia guardas que lembravam a guarda real britânica. Estavam fortemente armados, atirando nas pessoas, em uma verdadeira chacina, com derramamento de sangue e cadáveres caindo instantaneamente. Eram seres demoníacos, sem nenhuma compaixão. Era nítida a sensação de bem-estar estampada em seus rostos. Ao ver isso, tive que procurar um lugar onde os guardas não me encontrassem. Pulei o cercado de uma casa próxima e encontrei um porão que parecia um abrigo ou galpão para guardar mantimentos. Abri e pulei lá dentro. Estava escuro, mas era um lugar onde poderia passar os minutos da invasão. Fechei a porta de madeira para não levantar suspeitas e fiquei sem fazer nenhum movimento. Só escutava a gritaria do lado de fora, sons de tiros e de cães sedentos devorando outras pessoas.
Logo depois que tudo se acalmou, decidi que era hora de sair e ver como o mundo estava após a revolta. O chão daquele lugar estava coberto de sangue, com um amontoado de corpos; havia uma montanha de cadáveres à minha frente. Isso não me assusta mais. Tentei sair daquele lugar. Parecia estar seguro. Então, aumentei o passo, correndo. Faltava apenas dobrar o caminho e fugir daquele lugar, mas quando cheguei atrás da casa, vi que todos os guardas estavam descansando ali. Eram muitos. Todos se assustaram, e um deles, que estava próximo, disse: “Há um sobrevivente.” No mesmo instante, sacaram suas armas e começaram a atirar, disparando por cerca de 10 minutos…
Ao me levantar, encontrei um caminho longo, uma estrada de areia. Não encontrei ninguém por várias horas. Continuei a caminhar, e logo em seguida, um velho que carregava um saco parou e disse: “Você fez errado novamente, você não conseguiu.” Não compreendi o que o velho disse, mas ignorei e continuei a caminhar. Logo à frente, havia uma cidade, com muitas pessoas correndo. Parecia uma invasão, lembrando soldados do exército alemão, com um fardamento que não deixava dúvidas.
O que estava acontecendo? Tentei encontrar um lugar para me proteger. Voltei pelo caminho que havia percorrido até chegar a esse lugar. Corri, corri, e parecia que tinha me afastado o suficiente; não queria entrar em uma cidade que estava sendo invadida. Então, retornei para a estrada de areia. Havia uma pequena floresta. Não me lembrava de ter visto uma floresta, mas entrei e saí do outro lado, que parecia ser o final daquela cidade. Como é possível? Fiz o caminho inverso e saí no final da cidade? Desci, me desviei de uma árvore e lá estavam todos os soldados esperando. Eles estavam no outro lado da cidade; como podem estar aqui? Fizeram novamente um fuzilamento que durou cerca de 20 minutos.
Ao me levantar, estava caminhando em uma estrada de terra. Não encontrava ninguém por várias horas. Continuei a caminhar e, logo em seguida, avistei um velho que carregava um saco, que parecia ter algo dentro. O velho parou ao meu lado e disse: “Você não conseguiu.” Ignorei e continuei a caminhar pela estrada de areia.
Depois de algum tempo, encontrei uma cidade logo à frente. Alguns homens estavam invadindo, e parecia que havia dois exércitos massacrando as pessoas que moravam ali. Não havia lugar para ir ou fugir. Continuei até encontrar alguns guardas, e um deles perguntou: “Quem é você?” Não soube responder. “Você tem medo da morte?” Não conseguia mover meu rosto. “Então, seja um dos nossos. Só sairá daqui se cumprir uma tarefa. Pegue essa arma e ceife todos que conseguir,” disse, enquanto segurava meu rosto.
Vi um forasteiro entrar na cidade, aparentemente procurando um abrigo para se esconder, e o observei entrar em um porão. Pobre alma. Do outro lado da cidade, um outro homem foi devorado por criaturas humanas e jogado no rio.
Pobres criaturas, estavam realizando todas aquelas atrocidades, destruindo tudo. Não havia ninguém neste lugar. A cidade parecia estar em ruínas há alguns anos, talvez centenas. Um homem vinha em minha direção; parecia um velho. Ele parou na minha frente e disse: “Eu sou você, com mais idade. Você chegou ao limite. Até breve.” Então, o velho puxou uma arma e atirou em minhas pernas e braços, deixando-me sem movimento. Ele não terminou minha vida, mas fiquei agonizando no chão.
O velho me arrastou por alguns metros, colocou uma carapuça na minha cabeça e me jogou dentro de algo. Pela textura, parecia um saco. Sentia uma dor agoniante que durou meses, enquanto me remexia dentro do saco e gritava de dor intensa. Depois de muito tempo, paramos. O que havia acontecido? Ouvi o velho dizer algumas palavras: “Você não vai conseguir.” Não consegui falar nem enxergar com quem o velho estava conversando. Então, o velho continuou me levando de volta para o mesmo lugar onde acordei.
Estou novamente parado neste lugar seco, sem cor, sem nenhum sinal que sugira qualquer presença, nem mesmo a mais ínfima. Lembro que passei muitos anos naquela cerimônia aterrorizante, onde serpentes me devoraram e lançaram meus restos em um ninho de cobras venenosas. Por que estou aqui, em pé, neste lugar? Será que tudo o que presenciei não passou de uma alucinação criada por este lugar maldito?
O vento sussurra palavras ininteligíveis, carregando um cheiro metálico de sangue velho e podre. As sombras se esticam, dançando de maneira perversa ao redor de mim. O solo seco começa a pulsar como se estivesse vivo, e uma risada grave e oca ecoa pela escuridão. “Hahahaha…” O som é áspero, ressoando com prazer maligno.
De repente, sinto uma presença se aproximando, algo que rasteja, algo que observa com olhos famintos. Uma mão fria e esquelética parece tocar minha nuca, e sussurros profanos enchem o ar. Uma entidade invisível ri da minha miséria, como se estivesse se deliciando com a minha dor e confusão. As risadas se intensificam, e o mundo ao meu redor se desfaz em um caos de vozes demoníacas e sombras devoradoras.
Algo se aproxima, sedento por mais do que apenas minha alma.