
Logo após os eventos no hotel, já estava acostumado com essa ideia de ser um cibercriminoso. Não me importo. Já desdenhei dos policiais e estou usando um disfarce quando saio de casa. Mudei a minha forma de interagir com pessoas desconhecidas.Recebemos uma informação de que um grupo de magnatas organiza eventos festivos e que recrutam adolescentes e jovens até 30 anos para o exterior. Mas não se trata de tráfico de pessoas, e sim, uma organização que promove prostituição para a elite fora do país.
O que mais me interessou foi saber que as pessoas ditas inimigas da nossa “legião”, como muitos pensam, formam inúmeros grupos de criminosos, terroristas e ciberterroristas espalhados pelo mundo. É evidente que não somos amiguinhos, queremos destruir uns aos outros.Parece que nesta semana teremos uma “batida” em cidades do interior com baixa escolarização e precárias condições socioeconômicas.O esquema funciona da seguinte maneira:
Uma equipe analisa geograficamente uma região e coleta dados para identificar áreas com potencial para captação de vítimas.Algumas jovens são sequestradas mediante encomenda. Algumas já estão em cativeiro e outras são sequestradas a pedido de clientes com alto poder aquisitivo.O cliente solicita e as meninas são levadas para o exterior, onde os senhores podem abusá-las sexualmente até se satisfazerem. Geralmente, os encontros acontecem em locais remotos da cidade. Às vezes, as vítimas são levadas para ilhas, entre outros lugares.
No entanto, queremos descobrir a localização e a identidade dos responsáveis por essa rede criminosa.Na manhã seguinte, recebemos alguns dados bem interessantes, que indicavam atividades suspeitas nas redondezas, no mapa, pois os alvos estavam longe geograficamente.Pelas informações que adquirimos anteriormente, antecipamos uma mensagem via mensageiro instantâneo sobre uma possível ação.Ao receber a captura de tela, analisamos os dados e conseguimos extrair metadados, obtendo uma possível localização dos inimigos.Agora, tínhamos a localização, o dia e o horário em que eles fariam a operação.
Passei alguns dias no hotel, usando o mesmo disfarce para não levantar suspeitas, estudando um possível local para emboscada. Mas, tínhamos cautela, pois não sabíamos quem eram nossos oponentes.Chegando o grande dia, partimos pela cidade, prestando muita atenção em qualquer pessoa suspeita. A vantagem de morar em uma cidade pequena e pacata é conhecermos todos os moradores, então qualquer pessoa estranha seria um sinal.Chegamos ao local próximo ao horário descrito no documento que obtivemos.
Mas, nada aconteceu na cidade.Passaram três dias e fomos informados que na cidade vizinha houve o desaparecimento de uma jovem de 18 anos.Poxa! Será que eles mudaram o esquema? Será que nossos inimigos sabem que estamos na cola deles?
Bom, é improvável, pois eles teriam que ter entrado em algum dos nossos sistemas, mas mostrar poder. E até o momento não houve nenhuma atividade estranha.
Aproveitei e peguei uma condução pública e fui até a cidade do caso. Chegamos lá, o deslocamento demorou cerca de 20 minutos.Ao chegar, vi que a cidade é bem interiorana, mas é uma fonte rica de informação, o que para quem trabalha nesta área vale mais que dinheiro.Observei que haviam alguns cartazes em lugares públicos. Cheguei perto de um deles e lá estava a foto da moça supostamente desaparecida.Penso que este grupo, pelas informações que temos, não se trata de tráfico de pessoas, mas sim de prostituição. Então, a chance dela estar viva é maior.Fotografei o cartaz e fui observar os moradores. Com isso, obtive outros dados conversando com algumas pessoas.
Havia um grupo de pessoas jogando na praça, uma espécie de truco ou baralho.Sentei-me próximo e, como é de costume, as pessoas gostam de falar sobre tudo o que acontece na cidade.Bom, é hora de colocar em prática a engenharia social e me aproximar da conversa.Cheguei todo agitado, tirando fotos dos lugares, filmando e etc.Me aproximei do grupo e disse: “Olá, boa tarde! Como estão? Se divertindo nesta tarde maravilhosa?”
O grupo, se sentindo à vontade com a minha empatia, respondeu:“Sim, realmente está um tempo muito agradável.”E aí, comecei a tentar tirar o máximo de informações delas.Estou um pouco triste, saí de casa esses dias porque estou muito abalado pela triste notícia que tive. Sabe aquela moça do cartaz? Ela era minha conhecida. Faz muito tempo que ela se mudou para essa cidade e nos conversávamos muito pelo telefone e messenger instantâneo. E nem acredito que fizeram isso com ela.
As senhoras, sinto muito o que aconteceu com sua amiga. Realmente, todos nós estamos em choque. Era uma moça muito dedicada e de família. Todos sabiam que ela gostava de estudar, ouvir música e ir à igreja aos sábados.Não sei por que essas coisas acontecem com pessoas boas, quando há tantos monstros à solta e só acontece isso ruim com quem não merece.Respondi:“Entendo. E ela era minha amiga de infância, imagine o que estou sentindo. Se não se importar, gostaria de saber o endereço de onde ela morava, pois ela me passou alguns meses atrás, mas não salvei na agenda. Vocês sabem onde ela está morando atualmente?”
A senhora disse:“Sim, claro. Ela mora na Rua X, vizinha ao grande supermercado. É bem próximo daqui.”Descobri o que queria e fui até o local indicado pelas senhoras. Devo admitir, a chance de senhoras na praça mentirem é remota.Bom, agradeço pela conversa amistosa e fui ao local.Cheguei no local indicado, mas estava tudo fechado e não havia ninguém.Bom, o que eu podia fazer? Não devia bater na porta dela, pois isso levantaria muitas suspeitas. Se o caso entrasse em investigação, essa minha visita à casa da vítima poderia prejudicar toda a organização.Fiquei próximo à casa, longe das câmeras de vigilância.
O que fazer? Passei algumas horas e nada de alguém entrar ou sair da casa. Já estava se aproximando da noite e nada, nada, e nada.Vou voltar na manhã seguinte.Passou a noite e lá cedo estava observando alguma atividade na casa. Tive uma surpresa: alguém do serviço público da cidade entregou uma correspondência e saiu.Pensei: realmente não tem ninguém aqui.
Dessa vez, fui acompanhar o servidor, que andava a pé, mas sem levantar suspeita.Como eu poderia abordar um servidor? Isso poderia tornar-se prova para investigação.O que eu poderia fazer para provar a informação que tinha?Cheguei na banca de revista e lá tinha uma criança, que pediu uma revista, pagou e foi embora.Tive uma ideia.Lembrei que usamos alguns acessórios quando fizemos a invasão, para cobrir meu rosto, mãos e corpo. Então, por que não usá-los agora?
Aproveitando que minha máscara de silicone é de palhaço, o que fazer?Pensei rápido, coloquei a máscara e fingi ter uns 6 anos de idade.Então, fui ao encontro da criança com a máscara de palhaço. Cheguei na frente dela e disse:“Hoje é seu dia de sorte! Você vai ganhar toda a coleção da sua revista preferida, tudo de graça!”A criança ficou animada e quis saber o que poderia fazer.
Eu disse:
“Para ganhar, você deve superar meu desafio. Se conseguir, vou deixar essa máscara e o prêmio dentro deste banco. Conclua o desafio rápido e pegue seu prêmio, que é:**Ir até aquele moço que trabalha no serviço público e dizer:Tio, sabe me dizer se encontraram a minha tia?”
E eu queria ir para o local onde ela foi levada.Então, o menino foi até o trabalhador e fez exatamente a mesma pergunta. Mas antes, ele havia colocado uma pequena escuta no garoto.Ele foi embora e, através do meu celular, estava escutando tudo, até mesmo o barulho dos batimentos acelerados do coração do garoto.O garoto fez exatamente o que eu pedi: ele perguntou ao servidor:“Tio, sabe me dizer se realmente encontraram a minha tia?”
O servidor respondeu:“Não sabemos se realmente a encontraram, mas lembro que as pessoas estavam falando que ela foi sequestrada lá perto da escola, no fundo.”Olhei em volta para ver se havia alguém. O bom é que tinha uma moita bem próxima da praça.Então, tirei meu dinheiro e deixei a quantia combinada para o garoto. Depois, saí pelo lado oposto.Fui até esse colégio no fundo. Realmente, um lugar bem esquisito, com pouca iluminação.Eureka! Havia uma câmera logo ali.
Fui novamente para o hotel. Não poderia estar ali naquele monte.Como temos acesso a todas as câmeras de vigilância, acessamos de casa essa em específico. Se ele estivesse lá, teríamos notado algo diferente. Todo sequestrador muda de localidade. Ele não faria o mesmo aqui, seria idiotice.
O que eu faria?Cheguei próximo à delegacia de polícia. É bem provável que lá tenha dados e registros das filmagens.Mas seria um erro se eu invadisse o sistema.Já sei! Tive uma ideia.Sentei no banco da praça e fiz um login reverso no site que administra o sistema da polícia.Usei uma velha ferramenta de brute force e, em cinco minutos, consegui realizar uma injeção SQL com sucesso. Pensei que não daria certo, mas tive sorte: a senha era “admin123456”.
Tive acesso ao sistema e vi que lá havia alguns vídeos registrados.Só tinha 5 minutos para entrar, assistir e cair fora.Também usei um ataque por FTP, pois haviam pastas compartilhadas na rede, então qualquer pessoa poderia atacar.Fui até a pasta “vídeos” e lá encontrei um vídeo com a data que eu procurava.Fiz a cópia do vídeo e me desloguei de tudo. Depois, resetei meus aparelhos.Assitir uma pequena parte do vídeo, não tinha acesso a dados oveis rapido naquela região, mas sei que havia um carro, pegando essa moça forçadamente. Era o suficiente para mim naquele dia.
Cheguei em casa e fui averiguar nos serviços de CNH, CPF, conta de luz, telefone, e só consegui o número da placa do automóvel.Fui no site e inseri os dados. Por lá, obtive o nome, o modelo do carro e o proprietário.Leguei o nome e fui no serviço de CPF, e descobri o seu número de documento. Depois, confirmei com contas de água, energia e etc.Realmente, aquele carro pertence a uma pessoa.Bom, já tínhamos dados suficientes, mas a imagem do homem era o nosso principal dado. Então, fui e usei aqueles serviços da deep web onde há muitos rostinhos conhecidos, que procuram por bancos de dados de forma ilegal, claro. Acessei, fiz o upload dessa imagem e a alimentei com os dados de CPF, automóvel e nome completo. Pronto, o site está procurando. Depois de 10 minutos, olha só, temos uma ficha! A imagem bate com o banco de dados. Então, o senhor é procurado pela polícia internacional por sequestro, homicídio e roubo. Ah, então você não era um cara tão inocente assim. E o melhor, é que ele participa de um grupo muito conhecido por ações de sequestro e prostituição. Lá na deep, procurei sobre essa organização. Demorou muito tempo, mas sabíamos onde ele se encontra e quais suas principais ações. Na deep web, temos sites com essa intenção, com fotos e dados dessas garotas sequestradas. Vendem-nas como mercadoria.
Passamos todas essas informações para o nosso grupo. A ideia era contratar um dos serviços deles.
Conseguimos um ator que poderia fazer o papel de garanhão.
Chegou o dia indicado. Pagamos o preço, fizemos uma análise geográfica do local, definindo entradas e saídas.
No dia do encontro, alguns carros de vidro preto pararam próximo ao local combinado. Nossos atiradores estavam apostos em esconderijos seguros.
Então, nosso ator chegou na hora indicada. O carro parou e o homem disse: “Está aí a sua encomenda. Fale o que quiser com ela. Depois de duas horas, iremos buscá-la. Aproveite o local e se divirta.”
O homem jogou a chave no chão e amordaçou a mulher com fita. Ela ficou parada até o carro ir embora.
Ao sair do local, ouvimos alguns disparos. Nossos atiradores finalizaram os dois homens ainda dentro do carro.
Chegamos à conclusão de que dominá-los seria perda de tempo, pois eram apenas lacaios e provavelmente não saberiam a localização e os dados que queríamos.
Nosso ator tira a fita da adolescente e diz: “Fique calma, não vou lhe fazer nenhum mal.”
Ela, ainda tremendo, começa a se tranquilizar.
Então, me aproximo e falo: “Você está livre, mas preciso da sua ajuda.”
Saímos daquele local, e ela ainda está meio assustada, mas quando vê o carro no estado em que se encontra, ganhamos sua confiança.
“Bom, você mora por aqui?”, pergunto. Deixando claro que essa adolescente não é a moça sequestrada desta cidade, mas outra que estava em cativeiro.
Ela responde: “Falo seu idioma.”
Então, nosso ator leva essa jovem, a alimenta e passa um dia com ela.
Chegando à casa onde eles estavam passando a noite, com tom suave, faço algumas perguntas: “Não queremos te fazer mal, mas você passou por muitos momentos ruins e gostaríamos que respondesse nossas perguntas. Depois, a levaremos de volta para sua família, pode ser?”
Então, a adolescente resolve contar tudo: local, o que eles faziam, todos os dados que queríamos.
Ótimo! Oferecemos mais um lanche e, como prometido, a levamos para casa. No entanto, não a deixamos na porta de sua casa, pois seria muita burrice. Se houvesse investigação, teríamos sérios problemas.
Na estrada que liga a rodovia à cidade da moça, há um caminho que leva a outra cidade. Chegamos a esse ponto de encruzilhada e deixamos a moça ir sozinha.
Então, eu disse: “Moça, você nunca me viu e não sabe o que fizemos, certo? Você não nos entregaria, nós a salvamos.” A moça respondeu: “Nunca! Isso será levado para o túmulo.”
E assim, a moça foi ao encontro de sua família. Fomos embora.
Com os dados que obtivemos, temos o suficiente para encontrar e desmantelar esse grupo de sequestradores.