Rodrigo Carv 
Depois daquele dia na UTI, tiver alguns dias sem lembrar de nada, só vagando por esse mundo estranho. Às vezes, penso que estou me tornando algo sem consciência. Até hoje não sei quem era aquela mulher que estava na cama. Não sei o que significa. Estou vagando um caminho longo, mas nunca chega ao fim. Espere! lembro desse lugar, parece que passei por aqui quando estava sendo puxado pela mulher de preto, o anjo da morte. Quando repentinamente aparece alguém, é o anjo da morte, e está carregando alguém. Foi jogado naquela cova, quem será? O anjo da morte vem até mim, e pede para jogar arreia neste homem enterrado “vivo”, respondi: eu? Por que tenho que fazer isso?
Sem saber muito bem, olhei para a pessoa que está na cova, e reconheci, eu estou ali, mas como é possível? Estou aqui no lado de fora e lá ao mesmo tempo? Eu sou o torturador da minha própria carne? Tudo que aconteceu, desde o incêndio, no rio, cova, eu mesmo fui o responsável? Tudo que aconteceu nesse mundo fui eu que causei? Estou sem entender, como isso é possível? Este lugar é muito esquisito, não consigo raciocinar direito. Olho para trás, me vejo chegando no mesmo lugar que comecei a conversar com a mulher de preto. Agora são três de mim? Quatro, cinco, sete, vinte, cem? Isso não tem fim? O último tortura o antecessor? Agora todos estão olhando para mim, estão rindo? A pessoa na cova começa a ri, tudo estranho.
Comecei a sair daquele lugar, tem alguém me perseguindo. E gritando: VOCÊ NUNCA FICARÁ EM PAZ, SUA ALMA ESTÁ CONDENADA! Não sei mais o que fazer, e qual o lugar procurar, preciso sair daqui o mais rápido possível. Que lugar é esse?, estou alucinando? O lugar que estou começou a rachar e se despedaçar, e em questão de segundos aquele lugar desapareceu, e tornou se uma grande cratera, cai por cerca de 20 minutos. Até chegar num lugar escuro, é uma caverna, com rio gélido. Caminhar por essas águas é difícil, estou carregando uma tonelada. É muito ruim se locomover por aqui. Até que cheguei numa sala de hospital, por que tem uma UTI aqui embaixo? Conheço esses dois, lembrei!, foi a mulher que ajudei na travessia. Está estranho, não foi assim que aconteceu? Ela está gritando de agonia, desespero toma conta do seu rosto, alguém está a perfurando, ela só grita, grita, grita, saia daqui seu demônio. Eu? Como? Estou assistindo uma tortura? Quando fiz isso? , novamente, aquilo me assustou e sai. Virei para o lado direito do rio.
Corri até esta cidade, já passei por aqui, escutei uma sonata tenebrosa naquela ocasião. Começou a chover, já fazia muito tempo, quem está tocando aquela música fúnebre? Estão preparando alguém com faixas brancas e o corpo foi levado por aquela estrada? Quem será que está ali? Dá a impressão que aconteceu há poucos segundos uma morte violenta. Cheguei numa casa no meio desse deserto, e bati na porta duas vezes. Uma pessoa abriu e disse: até que fim você chegou, agora entregue a carta que alguém especial pediu para você devolver. Sem perceber estava com algo em mão e entreguei ao dono da casa. Ele estranhamente correu atrás de mim, dessa vez ele acompanhou e perfurou pelas costas, cai no chão agonizando. O que estão fazendo? Estão me enfaixando? Me puxando por essa estrada, acabei de assistir essa mesma cena? O que está acontecendo? Estou sendo levado? Começaram a tocar a marcha fúnebre? e fui puxado pela mesma mulher de preto novamente? Vou ter que passar por tudo aquilo novamente?
Depois do caminho percorrido, estou naquela praça que conversei com o garotinho. Lembrando da conversa que tive com ele. Dessa vez, a voz está mais nítida. Lembrei que a mulher perguntou: você está conversando com alguém? O garotinho respondeu: sim, estou conversando comigo mais velho. Como é possível isso? Além das cenas aterrorizantes, estou passando por outra fase? Enlouquecimento? A minha cabeça está a ponto de explodir. A exaustão tomou conta de mim, estou perdendo as forças para resistir a esse lugar torturador, acho que é o fim. Não consigo mais. De repente, ouço uma voz levemente e suave, alguém está me chamando. Estou deitado no rio que cai. Alguém estende a mão e quando abro os olhos me surpreendi: então é você que veio me ajudar dessa vez?
