
Depois de acordar do surto que tive há algumas semanas na universidade, estava me sentindo muito mal, cheia de emoções negativas, enjoada e sem vontade de fazer nada. Tudo parecia estranho para mim. Dessa vez, os quadros e os bonecos estavam calmos e não me incomodavam mais. Agora estou sendo medicada com antipsicóticos bem potentes, que me fazem adormecer rapidamente, e ao acordar sinto-me péssima. Os efeitos colaterais dos medicamentos são muito ruins. Estou sozinha em casa. Estou me sentindo muito estranha, com um vazio dentro de mim, estou falando comigo mesma. O que está acontecendo? Por que não consigo sentir nada? Nada faz mais sentido, parece que estou em outro lugar, outra dimensão, outro mundo? Minha cabeça está a mil, muitos pensamentos vindos de todos os lugares.
Já está próximo das 19h e estou pronta para ir dormir. Tenho que tomar dois comprimidos por dia, são muito fortes. O procedimento é bem simples: engulo dois comprimidos de uma só vez e espero o início do efeito “terapêutico”. Bom, tomei, e depois de 45 minutos, meu corpo começou a ficar dormente. Meu estômago está cheio, estou com ânsia. Meu corpo está gelado, parece que um ar gélido passou pelo meu corpo da cabeça aos pés. Estou com o corpo pesado, quero adormecer, mas meu cérebro não está entendendo o que devo fazer: se durmo ou fico acordada. Estou sem ar, será que vou morrer? Não, é só o efeito dos medicamentos.
Às 3h da manhã, acordei me sentindo leve, sem angústia. Estava bem, até que, de repente, uma tristeza profunda tomou conta de mim. Por quê? Estava bem, e o desespero tomou conta de mim. Olhei para a frente da minha casa, havia uma porta na frente. Espere! Quando foi que liguei a luz do banheiro? Não me lembro de ir lá. Vou até lá e apagarei. Ao chegar, entrei no banheiro, olhei para o espelho e comecei a sentir um calafrio. Comecei a me sentir paralisada, nada do meu corpo parecia se mexer. Estou ouvindo pegadas. Tem alguém aqui? Olhei fixamente para o espelho e senti um terror nunca visto antes. Há alguém ao meu lado, estou sentindo, parece que ela quer falar comigo. Por favor, me ajude, quero conversar com você. Meu corpo não responde, estou sentindo um terror. O que vai acontecer? A pessoa ao meu lado insiste para que eu possa ajudá-la. Eu? O que posso fazer por você?
Estou vendo alguém, conversando com alguém? Como você entrou na minha casa? Vou chamar a polícia, quer levar algo? O que você quer de mim? Está tudo fechado, não saí de casa, não abri, você invadiu minha propriedade. Ela era um adolescente que aparentava ter mais de 15 anos, não tinha aparência de sofrimento. Depois me acostumei com a situação e comecei a conversar com essa menina. O que você quer? Quero compartilhar com a sua amizade, vamos conversar. Ela não aparentava ser muito comunicativa, mas parecia ser seletiva em alguns assuntos e era bastante crítica em algumas coisas. Falei do meu dia, do surto na universidade, etc. A adolescente começou a interagir comigo: você sabe que tudo que você passou foi planejado, você estava certa em puni-los, tudo que os professores escreveram no slide estava direcionado para você, sabe que eles querem prejudicar você.
Minha cabeça começou a ficar pesada e muito ativa. Parece que estou menos tranquila, sossegada na minha residência. Que bom que você está aqui, preciso conversar às vezes! Em alguns momentos, ela some e passa horas sem aparecer, poxa, estou me sentindo ótima. Olha, tem uma planta fora de casa, parece que está murcha, precisa de sol, vou pegá-la e colocá-la fora. Já amanheceu? Nem me lembro de ter dormido. Pronto, plantinha, você vai ficar bem e saudável. Toquei e, de repente, ela apresentou uma melhor aparência. O quê? Como consegui fazer isso? Que legal! Posso fazer isso? Fui testando isso durante a próxima às horas do dia perto da minha residência. Parece que perdi muita coisa, mas ganhei algumas virtudes. Um gatinho que toquei estava doente ficou animado, que bom! Será que posso curar outras pessoas?
Nossa, isso é algo sagrado. Sempre fui muito religiosa, será que agora posso curar outros seres? Mas o que aconteceria se descobrissem essa minha virtude? A indústria farmacêutica e os médicos não vão gostar que exista uma pessoa que cura sem cobrar valores imensos. Então, preciso ter cuidado para que ninguém descubra o que posso fazer. Aproveitei a tarde para comprar pão e as pessoas passavam por mim e olhavam normalmente, mas de repente um homem ficou olhando para mim fixamente, comecei a ficar com medo, fui para casa e me tranquei. A adolescente estava esperando sentada no sofá, com olhar de decepção disse: “Não queria que você saísse de casa hoje, você estragou tudo, sabe aquele homem que estava olhando para você? Ele é um agente treinado que sequestra pessoas especiais como você, ele sabe que você tem o talento de curar os outros. Pode ser que a indústria farmacêutica contratou ele para te sequestrar, ou fazer experimentos. Você é muito incompetente, frágil, e não sabe guardar um segredo do dom que Deus lhe deu, é podre.”
Não, não diga isso de mim, você não sabe o que estou passando agora. Tentei esconder, mas eles são muito mais rápidos para investigar. Você está com raiva de mim? Não brigue comigo. O que são esses pensamentos? Parece que eles me encontraram em casa, eu sabia que aquele agente secreto me marcou e agora eles sabem tudo o que penso e vou fazer. Estão ouvindo, não consigo mais guardar segredo. De repente, alguém chama no portão da frente. “Senhorita Ana, está tudo bem? Percebi que você saiu correndo e deixou os pães cair no chão.” A adolescente disse: “NÃO ATENDA ELE, isso será a chance que ele terá para sequestrar você e acabar com a sua vida.” Ana respondeu: “Mas ele é um vizinho, conheço ele há anos.” A adolescente retrucou: “Você é uma imbecil, não sabe que ele pode modificar a aparência para enganar pessoas fracas como você. Você não tem inteligência; por isso, toma antipsicóticos.”
Ana, sem saber o que fazer, está encurralada sentindo um medo inexplicável. A adolescente, olhando fixamente para ela, diz: “Você me decepciona. Está querendo falar com ele, não é? Saiba que pessoas mentalmente fracassadas se deixam levar por boas aparências. Todos aqui te odeiam, ninguém gosta de você. Vai ficar apodrecendo.” Ana, em estado de tristeza profunda, não sabia mais o que fazer. “O que você quer que eu faça? Não quero te decepcionar.” Os quadros na parede pareciam estar olhando para ela, julgando-a. “Tenho que ser punida? Não pedi para ganhar esse dom de cura. Por que estão assim?” Os quadros de pinturas religiosas pareciam fixar seus olhares nela. Quando Ana percebeu que a figura religiosa, fez um gesto de negação e abaixou a cabeça.
Ana, não, acredito que sou uma pecadora. Agora não terei mais salvação. Vou ser punida e levada para o inferno. A adolescente ainda confirma: “Sim, você decepcionou a Deus e será castigada por isso. Infelizmente.” Quando de repente, estava novamente na cama do hospital, tomando medicação. Minha visão estava turva, não enxergava nada, só ouvia alguém falando: Era o vizinho da Ana: “Então tive que entrar na casa, estava tudo aberto e encontrei a Ana na sala conversando sozinha, parecia que estava discutindo com alguém, ela gritava, puxava seus cabelos e quebrou algumas pinturas que estavam na parede. Me aproximei dela, ela só gritava em agonia. Quando chegou à exaustão, chamei a ambulância para levá-la ao hospital.”